Já começam os intermináveis anúncios de bonecas e futilidades na tv e nós já sabemos: está a chegar o Natal. O Natal de todos os embustes, de todas as vaidades, de todas as hipocrisias, de todas as misérias.
Os levantamentos das Caixas Multibanco vão disparar, os cartões de crédito vão bater no fundo, quanto mais pessoa “de bem” mais cara a prenda.
Carros de luxo serão oferecidos, uma infinidade de benesses cairá como um maná dos céus e o pessoal endivida-se à grande e à francesa para ir pagando no ano seguinte ou a 2 ou 4 anos conforme o volume de compras e respectivo crédito.
Mas existe a outra face, a mais oculta, triste e dorida do Natal – o Natal dos reformados que a tanto custo compram uma “lembrancinha” para os netinhos, deixando de tomar os medicamentos ou de comer carne nesse mês, porque também querem ter a sua ceia, ou comprar um casaco mais quentinho que o frio é o companheiro das noites.
Ao lado, muito ao largo passa o Outro Natal que se cola ao Reveillon em saídas para fora de Portugal, em estadias no Allgarve (esta foi de morte) e que por isso enche os hospitais de velhotes lá abandonados porque em casa só estão a empatar e não permitem viagens mais prolongadas. Nestas alturas adoece misteriosamente muito idoso... palavras ouvidas a muito médico de hospitais públicos.
O que é preciso é ostentar, mostrar “o sucesso” pessoal e profissional a todo o custo e esquecer os velhos nos respectivos locais de “abandono”.
Por mim, guardo lembranças de Natais mais sadios em que a oferta de um par de peúgas de lã feitas pela avó tinha todo o valor do mundo. Agora Hi-pods, Playstations, Mp4, Laptops e afins arruinaria qualquer reformado que desejasse satisfazer a voracidade egoísta do “netinho”.
Gostaria para o meu Natal de um frasquinho de água de colónia, as tais meias, umas luvas da mesma “safra” e verdadeiro afecto familiar porque de pais e avós já só posso cultivar a lembrança. Comer as 12 passas à meia noite e estar rodeada de amigos e família junto de uma fogueira aquecendo os pés. Hippie? Fora de moda? Talvez... mas igual a mim mesma.
Um último desejo ambicioso: PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE, e já agora, às MULHERES também.
Com amizade,
JOSEFINA BATISTA